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sábado, 21 de maio de 2011

Diferenciados em Higienópolis: quem foi ao churrascão e os seus desdobramentos


No último sábado, dia 14 de maio, o churrascão da gente diferenciada, em frente ao shopping Higienópolis, chamou a atenção de muitos que não acompanharam as discussões nas redes sociais a respeito do transporte público em São Paulo. A manifestação que contou com 600 pessoas, segundo a PM, ao longo de toda a semana teve suas repercussões, tais como a recente pichação em obra da linha amarela, entre outras muitas notícias. Basta digitar diferenciados no Google para ver quantas notícias sobre o movimento aparecem. Mas que churrascão foi esse?

O protesto contra o cancelamento das obras da estação de metrô Higienópolis foi organizado pela internet, com direito a muitas comunidades e páginas. No entanto, é evidente que várias pessoas ligadas diretamente ao bairro Higienópolis nem imaginavam que a rua Piauí seria interditada no sábado. No local, além dos organizadores e agitadores que levaram até bateria, dividiram espaço a fumaça do churrasco, carros de polícia, uma extensa cobertura jornalística, varredores de rua e outros trabalhadores da região, consumidores do shopping Higienópolis e claro, a população local que circulava pelo bairro, como de costume. É a elite conservadora versus diferenciados da periferia em batalha, certo? Eu desconfiaria desses estereótipos.

Engraçado é que em meio a cantos como: “Ô playboyzada/ fecha a janela/ Higienópolis virou Itaquera” uma senhora me abordou para questionar o que de fato estava acontecendo: “eles estão falando o que?”. Quando afirmei que a questão tratada ali era a obra do metrô, ela ainda perguntou se a manifestação era contra ou a favor da obra, demonstrando realmente não estar acompanhando a agitação a respeito do problema. Fiquei curiosa sobre quem estava por dentro da ideia do churrascão e comecei uma conversa informal com um varredor de rua que havia parado pra ver a movimentação. Dulcimar, 32 anos, que trabalha há 4 anos e meio naquele bairro, não sabia do metrô, do churrascão, nem do protesto. Um outro trabalhador da região, que passava em uma das esquina da rua Piauí, próximo ao churrascão, informou saber somente que “tinha a ver com o metrô”. Mais nada. Ao serem questionados a respeito da opinião sobre a construção da estação, todos se manifestaram a favor, de forma empolgada até. Na verdade nem todos: a senhora não me respondeu nada a respeito.

Dentre as situações inusitadas : manifestação em frente ao shopping Higienópolis (e não na Paulista, por exemplo), reunião de tantas pessoas a partir de uma ideia tão original veiculada pela internet (ou você já foi em um Churrascão desse?), entre outras questões intrigantes, o que me chamou mais atenção foram os desencontros de informação a respeito do protesto: se, superficialmente, pode parecer que os mais necessitados por metrô se rebelaram contra uma elite preconceituosa que está fazendo de tudo para impedir o metrô na região, algumas falas mostram que muitos dos que mais sofrem com a precariedade do transporte público não sabiam do protesto ou sequer haviam lido alguma notícia sobre a polêmica linha amarela, assim como ficou claro que velhinhas, ao passear com seus cachorrinhos pela rua Piauí, definitivamente se surpreenderam com a multidão. E os moradores que apareceram nas janelas? Em Higienópolis, alguns nem eram contra o metrô ou o churrascão, porque não estavam informados a respeito. Mesmo entre quem acompanhou pela internet a organização, chegou-se a dizer que perfis, comunidades sobre, muito daquilo era fake.


Por outro lado, depois do protesto, apareceram reportagens sobre o assunto na página inicial de diversos sites. Se todos possíveis usuários do metrô estão acompanhando o desfecho da história, acho que não. Se é importante ter estação de metrô onde há demanda, independente do bairro, claro que sim! Tomara que em outros bairros, mais pobres, que talvez nem tenham quem faça toda aquela agitação pela internet, haja manifestações de tanta repercussão como essa. Se bem que, no mesmo dia do churrascão, houve um protesto reivindicando a necessidade de metrô em M’Boi Mirim e Jardim Ângela. Alegou-se que esses sim seriam lugares onde, de fato, há extrema necessidade de estações e, no entanto, essa última manifestação não teve nenhuma repercussão e o governo estadual está apenas “avaliando a possibilidade” do metrô.

3 comentários:

  1. Li uma vez uma frase bastante curiosa (e verdadeira) sobre movimentos que nascem facilitados pelas redes sociais: hashtags não derrubam governos. O que faz acontecer, mesmo com a cibercultura, é gente na rua! E o seu texto mostra muito bem que o acesso à informação faz toda a diferença para mobilizar pessoas. Talvez que mais precise do metrô nessa região não teve acesso ao movimento arquitetado pela internet.

    Gostei de ver o seu primeiro post! Parabéns pelo blog. ;)

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  2. Parabéns pelo blog novinho em folha!
    Adorável mistura de linguagem jornalística, curiosidade científica e opinião inteligente.
    Ansiosa por mais posts.

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  3. cibele! não sabia que você tem um blog! =D

    muito interessante a sua abordagem sobre o tema, uma boa reflexão sob uma perspectiva que realmente ficou "escondida".

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